KURT COBAIN
Já tinha ensaiado escrever algumas linhas esse mês e sobre Kurt. Aproveitei que hoje é aniversário dele, pois, se vivo faria 50 anos. Um detalhe. Acredito no suicídio. Não acho que as pessoas são egoístas por tal. Cada um vive sua vida como quer. E, se a vida é escolha, livre arbítrio, por que não escolher a hora de partir? Não é verdade? Bom... Minha história inicia-se em 1989 numa resenha acerca do Nirvana na extinta BIZZ. Trazia um texto leve recomendando a banda de Seattle. Recomendava com modestas linhas... Dito isso eu não guardei necessariamente a informação. Estava muito ocupado descobrindo Smiths, REM, The Cure, Police, New Order, etc... Mas, nunca subestime a mente de um adolescente em plena forma. A partir dessa época eu comecei a ouvir tudo, ler tudo e observar a música como paixão. Comprava LPs, revistas musicais e já entrava em shows. Foi crescendo em mim o desejo de ser músico. Mas, também tinha uma paixão por literatura. Não sabia bem o que fazer. Eu só sabia (ou intuía) que precisava ir atrás dos sons e das informações. Não havia preguiça alguma de minha parte. Uma hipermnésia, sabe? No meu entorno muitos amigos que estavam na mesma e usavam as famosas camisas de banda. Pra gente, usar uma camisa significava conhecimento pleno sobre a banda ou artista. Rsrsrs... Bem diferente dos atuais tempos, não? Oxe... Sair com uma camisa do "Echo & the Bunnymen" e sequer conhecer dignamente? Nem a pau... E, a rapaziada testava mesmo... Lembro-me de quando eu saí com a camisa do "Dead Can Dance" certa vez e muita gente boa veio falar comigo. Fiz muitos amigos. Sabia da coisa também... Outra vez foi uma do "Depeche Mode"... Uma gringa me abordou na esquina de casa. Mas, pasmem... Ela queria saber sobre a revista de moda!!!!!! Sim, sim... O nome oriunda daí... Rimos, né? De moda eu nunca soube nada. Aí mandei fazer uma do Leonard Cohen... Saía orgulhoso daquilo. Envergava meu manto como peneira dos bons sons... Rsrsrsrs... Confesso: a gente era metido mesmo. Porém, eu ainda era mancebo jovem. Tinha muito que apanhar da vida. Ok...ok... O texto é sobre Cobain... Desculpe. No verão de 1991 eu recebi o convite de minha prima para passar o reveillon e o mês de janeiro em Nova York. Olha isso!!!!! Fiquei muito excitado. Eu mal me cabia em ansiedade. Aqui no Brasil ainda mal tinha CDs e aparelhos que tocavam tal mídia. Nada. Estávamos ainda nos vinis e a coisa demorava um pouco para chegar no país. Bom... Chegando em Nova York fiquei surpreso e alegre. Quem viaja sabe como é a sensação de ver pela primeira vez pessoas com outra cultura, outro idioma, outros aspectos físicos. Claro! Entretanto - duas coisas estavam ressoando de forma pungente lá no Tio Sam: Nirvana e o novo do REM (Out Of Time), de quem eu já era apaixonado. Eu ligava a TV e lá estavam Kurt e sua trupe. Muito, muito estourados. Foi uma overdose de Nirvana o tempo todo que passei lá. Obviamente que eu comprei o CD (veja bem... CD) e outras coisas que estavam estourando nos EUA na carona deles... Recordo de uma loja gigante que transbordava música. Tinha CD de tudo que eu ouvira e não ouvira falar. Foi alegria de tarado. Apesar do limite da grana dava para levar uns quarenta a cinquenta CDs... Cada um custava dez dólares. E eu tinha mil dólares na mão. Imagine? Um pessoal da loja começou a olhar... No estilo: "Who's that fuck guy?"... Hehehehe... Comprei tudo. Mas, faltava algo importante: o aparelho. Não tinha no Brasil, lembra? O vendedor ficou louco. Era muito alegria. Enfim... Rolei "Nevermind" por dias... E, fui absorvendo as notícias sobre os caras de modo VIP. Eu não precisava esperar chegar nas revistas ou no Brasil. Estava de cara pro gol. Ressalto que foi pura sorte. Não planejei. Juro. O fato é que quando voltei tinha inúmeras coisas pra contar, uma dezena de CDs para ouvir e mostrar aos amigos, além do Nirvana que a maioria ainda não conhecia direito. Ahhhh... E som... O aparelho. Ninguém tinha do meu pessoal. Minha casa ficou sendo ponto de apoio para audições dessa "nova mídia"... Rsrsrsrs... Foi quando a banda de Seattle estourou na MTV brasileira. Veio como trunfo do novo rock. Era o grunge. Uma nova forma de vestir-se (flanelas, bermudas, etc) e uma renovação no som. Vinham de carona, Pearl Jam, Alice in Chains, Soundgarden, Stone Temple Pilots, etc... Todos devidamente explorados na gringa e prontos para fazer muito barulho (e sucesso) por aqui. E, anos antes, Mudhoney, Melvins e Screaming Trees. Kurt sempre foi um cara diferente mesmo. Muito talentoso e cheio de manias. Estava pronto (assim achava-se) para o rock, mas não pro sucesso chato. A década de 90 foi muito intensa. Novas drogas, novas mídias, gravadoras perdidas, e um apetite fora do comum de todos para com eles (Nirvana). Sugaram até o último talo. Cobain tentou manter-se imune, porém tinha um dos piores inimigos em casa: vício. O suicídio foi um alívio para ele. Podem acreditar. Por mais que doa ou soe mal... Foi um alívio para Kurt. Peguem os especiais, biografias, documentários sobre o cantor. Verás que nada foi surpresa. Basta entrar na vida dele e observar todos os pilares que ele tinha. A saída foi essa. E, desde sua morte (sofrida por mim) eu penso que ele está bem e livre. Nos primeiros dias de abril eu estava numa festa e acabava de receber a notícia. Fiquei muito triste e chorei um pouco. O DJ fez um minuto de silêncio (juro) e rolou três da banda. Todo mundo que estava naquele dia sentiu bastante. Todos curtiam som. E a notícia, apesar de previsível, baqueou a rapaziada. A data também não ajudou muito: 5 de abril. Faço aniversário no dia 4. Puta presente de grego, mas...
TRACKLIST
Radio Friendly Unit Shifter (Nirvana)
Something in the Way (Nirvana)
You Know You're Right (Nirvana)
Love Buzz (Nirvana) - Cover
Lithium (Nirvana)
Rape Me (Nirvana)
CLIC.