THEM
Outra coisa: deixarei bem claro que não darei nenhum spoiler aqui. Fique "relax" quanto a isso. Quero deixar o texto atemporal e degustativo a qualquer pessoa. Então todos poderão ler e seguir para ver ou ver antes e conferir algumas ideias aqui.
THEM vem causando muita comoção nos EUA e, espero que assim seja no Brasil também. Tratando-se de um show que expõe o horror do racismo estadunidense misturando religião e metafísica os produtores conseguiram um resultado auspicioso: mexer e provocar o telespectador. Impossível assistir e ficar imóvel a tela. Pior: é capaz de traumatizar os mais desavisados. Mas, vamos destrinchar um pouco mais do show novo da Amazon Prime (estreou dia 9 de abril de 2021)...
Tudo se inicia na década de 50 em meio a política racista e cruel de Jim Crow no Sul dos Estados Unidos. Uma família de classe média negra resolve tentar a sorte grande na Califórnia dentro de um bairro extremamente preconceituoso e elitista. São futuros vizinhos que bem poderiam estar ou ser membros da KKK. Partindo desse tremendo desafio, a família formada por quatro membros, precisa passar por obstáculos hercúleos e cruéis (a série garante náuseas e profunda tristeza) diante de uma sociedade caricata e hipócrita.
Bem... Se fosse somente esses "players" (por falta de melhor verbete, desculpem-me) e conjunturas a série seria mais uma. Porém, o sobrenatural é adicionado e permeia o roteiro até o fim. E, esse é um dos truques de THEM. São duas linhas concomitantes e igualmente sofríveis que os nossos heróis (e vocês verão porque escolhi essa palavra) têm que enfrentar. Cada um à sua maneira. Cada qual com seus infernos particulares e obscuros. Cada qual tentando esconder e ao mesmo tempo ajudar os outros. Esse é outro ponto forte do show. Quem curtir personagens densos e com background espesso irá se fartar.
Do meio pro final, se você conseguir chegar incólume (o que eu duvido), estarás sedento e contaminado por um misto de desejos e sentimentos. Guarde-os e assista até o fim. A série sustenta tudo e todos até os minutos finais. Sugiro que separe tempo e mente para segurar o rojão. Aliás, falando nisso... Alguns atores consultaram um terapeuta que havia no set o tempo todo. É disso que estamos falando aqui.
Dou destaque também a trilha sonora. Envolvente, cativante, outras vezes angustiante e tensa. Há cenas memoráveis que funcionam perfeitamente com a trilha. Outro bom ponto de THEM. Procurem alguns "tunes" presentes no show. Vale a pena. Como valem também outros truques e referências históricas. Tais como o golpe habitacional que os barões da indústria aplicaram em todos de renda baixa como o sistema financeiro cruel a juros impagáveis.
ELENCO - Uma série assim precisa de um grande elenco. O núcleo da família é muito bom. Assim como alguns outros protagonistas. Destacaria aqui a mãe e o pai (Deborah Ayorinde e Ashley Thomas) respectivamente, Alison Pill (impenetrável e assustadora - foto), Dale Dickey (quase um espantalho) e Christopher Heyerdahl como um homem perturbador e enigmático.
Gostou? Pois é. Eu nem estava preparado para tal e mergulhei. Acho que os países do continente americano necessitam debater e discutir mais e mais sobre racismo e exclusão. E, essa conversa não pode ser sutil nem leve. Não foi na época e segue não sendo até hoje. Não é?
Reserve um tempo e mãos à tela!
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