SEGUINDO...
PARTE 2
Caso eu não tenha apresentado Steph - ela era minha melhor amiga. Mulher prolixa, sábia, com uma mente ácida e engraçada. Ela era professora de História e minha confidente. Não saberia viver sem ela. Infelizmente, adoecera e tratou de esconder de todos o que acometera. Inclusive pra mim. Aquilo deixava-me transtornado. Enfim... Birmingham, cidade-destino
talvez me trouxesse paz e serenidade. Passei a planejar um pouco de saúde para
mim. Comer bem, respirar um tipo de vida “low profile”, acordar cedo, bebericar
de maneira responsável e com os sábios velhos ingleses.
Foi
servido um café no trem, mas, preferi um chá de ervas aromáticas. Estava
começando a me aclimatar com a mudança de estilo. Decerto, me senti meio
fresco, mas, era preciso. Cheguei de noite. Avistei um simpático pub britânico e entrei. Pedi
uma vodka Polonesa que era um dos carros-chefe no cardápio de bebidas. Pra
acompanhar, uma torta de amora. Diferente
de Londres, as pessoas ali tinham uma certa alegria e calor. Divertiam-se com
muitas piadas e emoção. Transmitiam
isso...
Eu
revia alguns dos materiais que já tinha e começava a formatá-lo para o jornal.
Separava o que de mais novo e construtivo fosse. Deixava de fora alguns
excessos banais. De
repente, comecei a indagar-me sobre o real motivo de estar ali. Eu já havia
cumprido a minha primeira missão de ver meu grande e infeliz amigo Seth. Doía
não poder fazer muito ou não passar os dias restantes com ele. Quiçá sanar suas
dores. E
estava bem encaminhado na minha missão profissional. O que faria depois disso?
Voltaria
pra casa? Procuraria por Steph? Por Seth?
E
de que adiantou ter encontrado-os por alguns poucos dias?
Qual
era o genuíno significado disso tudo?
De lá fui para o hotel mais perto. Não ficaria muito tempo mesmo. Liguei para a casa de Seth... Havia passado alguns dias.
O telefone chama e quem atende não é Seth:
-
Lenny?
-
Sim. Quem fala?
-
Sou eu Lenny, avô de Seth.
-
Ah, sim. Como vai o senhor?
- Lenny:
Seth faleceu!!!!
-
Como?
-
Seth faleceu.
-
Meu deus!!!!! Estou indo direto para aí...
Peguei o primeiro trem para casa de Seth. Lá cheguei e o encontrei no chão com
sangue. Bastante sangue. “Ué, não foi a doença? “ – pensei comigo.
Diante
do meu semblante o avô de Seth explicara que seu neto havia cometido suicídio.
Desabei nesse
instante. Perdia
ali, de fato, um dos meus maiores amigos. Uma das pessoas mais generosas que
esse mundo conheceu e homem de princípios idôneos. Um filósofo por excelência.
Seth
apenas iria engordar os números de casos de suicídios no País. Apenas...Viraria
um número tão somente. Algo na qual ele mais odiava: a desumanização inexorável
da vida.
Olhava
para Steph e fintava seus olhos com imperativa raiva. Ela entendera o recado.
O
Funeral de Seth foi simples, porém profundo. Ao menos para mim. Ele foi
enterrado num campo bonito, repleto de verde e ternura. Seu avô me concedera a
honra de emitir algumas palavras antes de terminar o enterro.
Parei,
pensei...Pedi desculpas aos mais idosos e acendi um cigarro. Comecei meu
pequeno discurso com um palavrão proferido com todo poder do meu pulmão...Isso
embaraçou alguns presentes, mas eu não estava nem aí...
"Seth
foi um dos homens mais circunspecto que eu havia conhecido. Dono de uma
generosidade notória e coração puro. Ali naquele caixão não tinha mais meu amigo;
ali jazia carne morta. Ele já estava em outro plano, fumando e nos observando.
Mais sábio e mais experiente nesse momento. Era isso que ele procuraria
primeiro ao morrer. Tinha certeza disso. Seth: foste um homem na concepção e
propriedade da palavra. E decidiu a hora de parar. Pois, ele tinha o controle
de sua vida. Ao perder – manteve-se fiel até o fim”.
Nessa
hora, algumas pessoas bateram palmas timidamente. Eu emputeci-me e
provoquei-os:
-
Nada de timidez. Batam palmas...Esse homem merece...Batam com força e
demonstração de nossa admiração por ele. Batam palmas para esse homem...Ele
merece. Seu ato final pode constranger e ser reprovado por muito de nós aqui,
mas ele foi um artista. E seu suicídio foi bem mais significativo do que a
espera pela falência sepulcral que o aguardava.
O livre
arbítrio era assim. Poderia ser amor, amizade, raiva, tesão, ódio, paz, etc. O
mistério era a freqüência desses sentimentos todos. O “controle”. Ou você
dominava ou era dominado. Para qualquer exemplo que direcionássemos lá estava o
tal do controle em ação. Um homem que ama demais e se mata. Ou um tolo que
perde o controle de seu corpo e exarceba-se em doses letais. Um chefe de estado
que não governa seu povo com inteligência e entrega-o para anarquia suicida. Ou
até um louco religioso que extermina outro religioso em nome de Deus. Tudo isso
é controle.