ASSÉDIO - Parte I
Tomo a liberdade e a gentileza para com as mulheres por tocar num assunto tão grave e crítico. Na verdade, admito nervosismo por não ser mulher e tampouco ter (e ser) meu lugar de fala. Entretanto, senti-me provocado e obrigado em desopilar um pouco acerca do tema. É sabido que milhares (milhões) de mulheres são aliciadas, agredidas ou coisa pior todos os dias. Nada do que eu falar aqui será novidade (muito menos terei essa pretensão) ou inédito na rede, etc... Tampouco darei explicações ou elucubrações (famoso "mansplaining") a respeito. O que eu gostaria é de tentar situar-me dentro da sociedade. Há cerca de cinco anos atrás fui surpreendido por uma amiga sobre uma pessoa em comum. Essa querida amiga afirmou que havia sido assediada por determinada pessoa. Contou-me exatamente como aconteceu. Tive uma reação de espanto e solidariedade para com ela. Claro! Ela estava emocionada. Minha primeira reação foi aconselhar a denúncia. De prima. Porém, senti que pairava uma hesitação dela nesse caminho. Um medo de ser desmentida, julgada e contestada. O que acontece, infelizmente, diariamente. Ali coloquei-me como amigo, pai (minha filha tem vinte e dois anos) e cidadão. Preciso reagir e ajudar. Após o episódio pensei em desvendar e dar a mão a ela, porém percebi que havia algo mais. Bem mais...
Cortemos e avancemos dois, três anos depois... Cenários diferentes. Um homem assedia determinada mulher e essa reage. O que vem após é uma sucessão de ações condizentes com o tamanho da agressão e desrespeito. Nessa história muitos amigos saíram machucados e feridos emocionalmente. A mulher cobra com razão um posicionamento de todos, ou ao menos das pessoas em comum. Algo chamado hoje em dia de "sororidade. A palavra no latim significa, em termos leigos, irmandade. Algo cúmplice entre irmãos. Bela palavra, sem dúvida. A fonte não poderia ser mais ideal. A lealdade, em tese, entre irmãos estabelece sangue, "fechamento" (na gíria) e companheirismo. Código ético, regrado e conduta idem. Fui saber da história dias depois, porém minha participação foi breve. Recebi um recado que deixou-me triste e impotente. Como eu era um "conhecido em comum" fui excluído do convívio da menina.
Nota do editor:
"... Michel era um menino de treze anos que caminhava normalmente pela orla da praia. O destino dele era encontrar seus amigos no local combinado. Aproximadamente às treze horas daquela ensolarada tarde de sábado. Em seu caminho alguns quilômetros aguardavam-no. Em determinado instante Michel percebe que há um carro numa velocidade extremamente baixa. Suspeito. Bem suspeito. Dentro do carro um homem tenta contato visual. Michel estava de bermuda, camisa no ombro e chinelos. Aperta-se um pouco mais o passo, pois um certo temor ali havia. O carro segue a mesma procissão. Mas, dessa vez o homem lá dentro o chama. Com face maliciosa, esperta e covarde. Michel sente-se coagido e constrangido. Num reflexo genuíno cata uma das pedras que há pela rua e ameaça jogar no carro. O homem assusta-se e acelera o carro. Michel respira aliviado. Quase chegando perto da entrada do local combinado com os amigos Michel avista o carro quase parado à sua espera. Dessa vez, com mais raiva, o menino cata raivosamente duas pedras e joga-as na direção. O homem desiste e vai embora..."
(Nessa fase da vida, crianças e adolescentes, são vítimas de assédio. Meninos e meninas. Pedofilia mesmo. A distinção é que pros meninos isso quase finda na fase adulta paras as meninas/mulheres é para a vida toda)
Retornando a primeira história: o que deixou a minha amiga tensa igualmente é que eu era amigo da pessoa. E, isso ela não poderia suportar. Compreendi os dois golpes de maneira adulta. Percebi que eu não era protagonista em nenhuma delas. Mas, eu teria que posicionar-me. Esse era o cerne de tudo. Fiquei refletindo sobre. Não sobre a veracidade ou juízo dos algozes, mas da minha participação. O que eu poderia aprender com tudo isso. O que representava minha atitude e como deveria ser. Obviamente que não há nenhum vitimismo ou grande chagas aqui. A questão da violência contra a mulher é um dos enormes problemas em nossa sociedade. Fato. Como pai eu temo, como amigo e cidadão idem. Todas que cercam-me. O que segue cinza é a colaboração e participação das pessoas do mesmo gênero dos algozes. Talvez esse seja um assunto que precisamos debater a qualquer momento. Eu percebi, algumas pessoas que souberam de ambas histórias também perceberam e muito provavelmente vc quem me lê vá perceber.
Em outras palavras: como, nós, homens, principais algozes, podemos ajudar?