quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Pauta de Hoje: The Rise and Fall - Madness (1982)

 

The Rise and Fall - Madness (1982)


Madness sempre foi uma das bandas mais interessantes e pulsantes ali do fim da década de 70. Originais de Londres e, influenciados pelo ska, reggae e rocksteady tiveram uma enorme influência dos sons jamaicanos assim como toda a Inglaterra. Bandas punks, inclusive, também beberam e curtiram o som da Jamaica. Só para citar algumas como: The Clash, PIL ou The Police. Decerto que o Police não foi uma banda punk e nem o PIL foi um grupo de ska, porém, Johnny Rotten era um fã assumido de dub. O que estaria presente em muitas faixas do PIL em discos seminais ali de pós punk, sobretudo nos primeiros trabalhos.

De qualquer modo, nesse período (pós 76) havia começado um movimento (gênero) que foi cunhado como 2-Tone e, legitimado pelo selo (gravadora) 2 Tone Records criado por Jerry Dammers, líder do The Specials. O cast principal continham Madness, The Beat, The Selecter, Elvis Costello, o próprio The Specials, entre outros. E, foi a partir daí que muitos artistas/bandas construíram suas carreiras. 



Posto esse preâmbulo todo para informação e consciência do cenário à época, eu tomo a liberdade de ater-me ao assunto principal: a banda Madness. E, em específico um disco clássico deles de 1982: "The Rise and Fall". O álbum completa agora, dia 8 de outubro, quarenta e um (41) anos de vida. Confesso que foi o segundo disco deles que eu ouvi. E, notei enorme diferença entre ele e o primeiro da banda: "One Step Beyond" (homenagem ao ídolo máximo Prince Buster) de 1979. 


O Madness construiu nos primeiros álbuns uma carreira muito respeitada na Inglaterra com seu ska revival e rocksteady. Colocaram, através desses discos, muitas canções nas primeiras posições de listas musicais. Porém, a partir do terceiro disco ("7") e "The Rise and Fall" (quarto disco) a banda resolveu ampliar suas referências e sonoridades. Desde o vocal de Graham McPherson, o "Suggs" (o sotaque carregado foi perdido) até as harmonias que foram incluídas nas músicas. Tudo isso foi amplamente percebido pelos fãs como pela crítica especializada. Vale ressaltar que essa mudança toda agradou boa parte dos críticos. E, ouso me incluir nessa também. 

Dessa forma, "The Rise and Fall" assim foi concebido. Antes a ideia era de um álbum conceitual e recheado de experiências íntimas dos músicos, mas no meio do processo as coisas foram mudando. As letras obedeceram o planejamento, contudo, as melodias nem tanto. 


Devo confessar (mais uma vez) que trata-se do meu trabalho predileto deles. Desde que ouvi fiquei admirado com a beleza e criatividade dos rapazes. O septeto (sim, são sete músicos) - Suggs, Mike Barson, Chris Foreman, Lee Thompson, Chas Smash, Dan Woodgate e Mark Bedford - conseguiram construir faixa a faixa sons ricos e bonitos sem perder a ironia, ousadia e irreverência (marca registrada, inclusive nos clipes). Os metais seguem firmes nesse trabalho, a sombra do ska e o andamento musical também. Nada perdeu-se. Tudo foi incluído e melhorado. Faixas como "The Rise and Fall", "Mr. Speaker" (uma canção beeem pós punk) e "Calling Cards" demonstravam que a banda não esquecera suas origens. Porém, ali haviam surpresas auspiciosas como "Blue Skinned Beast" (belíssima canção), "Primrose Hill" (Uma psicodelia tardia meio Beatles) e "Are You Coming With Me?" (outra pepita). 

Os arranjos são extremamente bem feitos dando uma cara de álbum conceitual, apesar da banda negar de forma peremptória. Mas, tem muito mais coisas ali. Um ar de jazz certas vezes outras vezes clima de big band ou avant garde. Eu diria que esse disco é um dos mais experimentais da carreira do Madness. 

Em entrevista, Suggs afirmou que a ideia inicial era que cada um colocasse nas letras suas experiências de vida. Isso foi QUASE seguido à risca; não fosse por "New Delhi" (Mike Barson foi o culpado). "Tiptoes" remete um fake bolero. Foi uma das faixas que demorei a curtir. "That Face" é uma ótima faixa também influenciada pelo pós punk londrino. Aliás, a linha de baixo dessa música é qualquer coisa de genial. Quase me engana de banda. 

Jamais poderia terminar esse texto sem citar duas faixas emblemáticas. "Tomorrow's (Just Another Day)" e "Our House". Uma foi paixão à primeira vista. Assim que ouvi "Tomorrow's" grudei no vinil (sim... Tenho em vinil). É uma melodia perfeita. Demonstra todo talento de Smyth e Barson (os autores) do primeiro ao último minuto. Já "Our House" é um hit pronto. Não há nenhuma coletânea, show ou revival que exclua essa canção do set. Impossível! E é um petardo estupendo... Nas festinhas que eu frequentava ela era uma espécie de celebração entre os fãs. Uma forma de afirmar que "aquela ali era a nossa casa". Certamente a música mais importante desse disco e mais famosa da carreira deles. 

O álbum fecha de forma deliciosa com o jazz fusion de "Madness (Is All in the Mind)". E, diferentemente das outras faixas, essa conta com Chas Smash nos vocais principais. Uma despedida com classe e refino. 

Uma curiosidade acerca de "Rise and Fall": o disco jamais foi lançado nos Estados Unidos. Assim sendo, no ano seguinte (83) lançaram uma compilação contendo seis faixas do álbum e o restante com clássicos de discos anteriores. Uma lástima ao meu ver. Esse trabalho requer audição completa da primeira a última canção. Azar do mercado estadunidense. 

Se você nunca escutou esse disco faça esse favor a si. Se já conheces sabes do que falo. Aproveite para abrir um conhaque bom e re ouça! É sublime!




Leozito Rocha

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