segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Pauta de Hoje: Rockarioca apresenta Katia Jorgensen & Picassos Falsos no La Esquina (Lapa)

 

Pauta de Hoje: Rockarioca (Edição 5 Anos) apresenta Katia Jorgensen & Picassos Falsos no La Esquina (Lapa)


Pois é. Eu, Leozito Rocha e Nem Queiroz estivemos na famosa casa na Lapa para acompanhar e resenhar ambos shows. Resolvemos dividir os textos por ordem das apresentações. Nem Queiroz falou sobre a Katia e eu escrevi sobre os Picassos Falsos. Seguem os textos...


Pedro Serra - o MC do evento


KATIA JORGENSEN



Cheguei ainda na passagem de som e ela já estava lá, toda altiva, ativa, dona do pedaço, da hora, de tudo, dominando o palco, exigindo perfeição. Pronto, tudo pronto! Entrada liberada para uma fila que se estendia lá fora. Em instantes a casa foi enchendo e o Renato Jukebox (DJ da noite) não perdeu tempo: The Cure nas carrapetas ("Fascination Street") fazendo as primeiras honras da noite, que prometia. A atração principal, claro, eram os Picassos Falsos que há tempos não davam o ar da graça; sentia-se a apreensão no ar, podia-se notar a euforia e a expectativa dos fãs. Mas Katia Jorgensen tem poder!

O show começaria com uma hora de atraso, mas nada demais (pra quê começar um show desse às 20:15?!) O público ainda estava chegando, o clima era dos melhores, a casa iria bombar com certeza para a justa comemoração dos 5 anos do Rockarioca comandada pelo competentíssimo amigo Pedro Serra. Basta dizer que o rapaz conseguiu trazer de volta uma das bandas mais cultuada dos anos 80/90! E Katia Jorgensen atacaria em poucos instantes o palco do La Esquina. Público a postos e ouve-se os primeiros acordes! 

Katia - que até então aguardava sentada nos degraus na escada de neon que nos leva ao segundo piso da casa - levantava-se como que atendendo o chamado da banda e então vinha ela a passos lentos e molemolentes, cheia de si por fim pisar o solo sagrado. "Boa noite, gente! Vocês vieram por causa dos Picassos né!" Brinca já toda solta no palco, como lhe é peculiar. Katia Jorgensen é dona de um dos discos mais elogiado do ano passado, o singular "Canções para odiar" (com produção do grande Jr. Tostoi e Rafael Oliveira) e encarnando a personagem Odete Hateman dá vida as canções trazendo-as para o público no show "Canções para odiar - Uma ópera Rock!" que teve sua estréia oficial no Teatro Rival com direção da atriz Maria Eduarda de Carvalho.


Katia e Banda



André Nervoso

Mas voltando à noite estrelada, o show foi compacto e vibrante. Katia sempre entrega! E a canção que dá título ao disco e ao show, como não poderia deixar de ser, abriu os trabalhos com excelência já ganhando a plateia que a essa altura já enchia a casa, aplausos mais que merecidos. E entre uma música e outra Katia cutucava: "Vcs vieram pra ver os Picassos, né!" quem vai saber da ironia e desfaçatez da sacada da frase?! Katia é assim, cheias de "eventividades" inesperadas, sem pudor muitas vezes, mas genial sempre! 

Katia veio com a canção "Naquele Trem" seguida de "Te Achei Feio" que ganhou um coro ainda tímido dos presentes na casa demonstrando intimidade com a canção. Katia gritava: Cantem! Cantem! Numa entrega de ambas as partes.

A surpresa do set ficou com a canção "Você me vira a cabeça" famosa na voz da marrom Alcione e que Katia cantou lindamente. Como também canta o roteiro, a Ópera Rock de Katia Jorgensen (em entrevista dada ao próprio Pedro Serra) conta a saga de uma mulher que conheceu um homem no metrô e passou por todas as etapas de um relacionamento conturbado. É mesmo de virar a cabeça e Katia é também de virar o jogo, e nessa toada já tinha conquistado o público há tempos. Ótimo show fazia a menina, acompanhada pela Hater band formada por André Paixão (o famoso "Nervoso") na bateria; Rafael Oliveira nas guitarras, violão, voz e direção musical; e ainda Rafael Figueira, substituindo Chico Vaz, no baixo. 

E teve também Walter Franco no repertório com a emblemática "Canalha", aplaudidíssima.

"Empty" merece destaque, cantada em inglês e muito bem absorvida por todos. O set ainda nos trouxe "Samba" e também "Pomba", fechando com um dos sucessos de Jorgensen, "Migalhas". Estava combinado um bis com "Vapor Barato" de Jards Macalé mas não rolou, talvez pelo atraso, não sei. Mas enfim, mais um ótimo show da nossa querida cantora/performance. Casa lotada e como Katia alertava, eles vieram para ver Picassos, mas isso é um outra história, a outra parte de uma mesma noite... que só esquentava!

Nem Queiroz





PICASSOS FALSOS



Humberto Effe



De fato, a banda não se reunia havia bastante tempo. Humberto Effe (voz) seguia sua carreira solo, Gustavo Corsi (guitarra) continuava atuando nas produções e nas bandas de apoio de Marina Lima e Leoni e Romagnoli (baixo) nas linhas editoriais do jornalismo. Uma reunião assim parecia algo bem distante. Mas, com a competência de Pedro Serra tudo mudou. Foram meses a fio seduzindo o trio sem quase nenhum sucesso. Até o convencimento a tal. E, seria dentro das comemorações dos CINCO anos do coletivo Rockarioca no La Esquina.

Pedro tem feito um verdadeiro trabalho incrível de catálogo, incentivo e divulgação de dezenas (talvez centenas) de bandas e artistas cariocas. Produção também de muitos eventos com shows, merchandising (camisetas, bottons, Cds e muito mais) e estímulos culturais. Convido os leitores a conhecer... 

Pois bem... Dentro disso tudo chegara vez dos Picassos Falsos subirem ao palco do La Esquina mais ou menos por volta das 22:10hs. O trio supra citado contou com a bateria de Lourenço Monteiro mostrando serviço e conduzindo com maestria as canções da banda.





Abriram com o clássico homônimo "Supercarioca" mostrando que seria um show no capricho. A levada meio "Taxman" (Beatles) sacudiu a rapaziada ali no gargalo. "Retinas" com uma pancada na batera e pandeiro, e "Porta Bandeira" (do disco "Novo Mundo") mostraram ao público que ali tinha uma banda diferente do habitual rock oitentista. A pegada deles sempre esbarrou em Ismael Silva, Tim Maia ou Noel Rosa. Mas, com rock também. Picassos reúne swing de uma disco ou do samba. Tem muita black music ali. Ô se tem...

Seguiram com "O Homem que Não Vendeu Sua Alma" (uma levada de rock super gostosa), "Marlene" (uma das minhas prediletas) e "Contrastes" - anunciada com muito apreço por Humberto - já que essa é do tempo de priscas eras. Fato! Essas duas últimas seguem uma parte da banda que flertava (e flertou) com o gótico. Baixo marcado, alto e ditando o clima. O show pegava fogo. Plateia e banda uníssonas. Humberto muito a vontade no palco ora dançava ora mexia com as pessoas. Testemunhamos uma celebração bela dos músicos. Gustavo mostrava técnica e competência em solos e riffs. Romagnoli segurava o groove das canções e Lourenço quebrava tudo. 

Quando chegou a vez de mostrar o ápice de tudo o público recebeu "Nunca Fui a Paris" (Fernanda Takai cantou e gravou junto) com enorme alegria. Humberto homenageou o falecido e parceiro Mauro Sta Cecília (compositor e co autor). Para aumentar de vez e sentir a catarse de "Carne e Osso" - cantada a plenos pulmões por todos. Chegando na linda versão de "Pavão Mysteriozo" (canção de Ednardo) com um quê psicodélico e peso. Ainda faltavam "Rio de Janeiro" e "Bolero". Duas pepitas do classudo disco "Supercarioca". Auge total na casa. 




Romagnoli


"Verões", "Wolverine" e "Bonnie & Clyde" também rechearam o set list dos caras. Porém, o que faltava era a incrível "Quadrinhos" (desde criança só lemos os quadrinhos dos jornais...). Uma das responsáveis pelo auge deles ali ao final dos anos 80. Uma das letras mais certeiras de Humberto. 

Os Picassos Falsos encerraram o bis com "Olhos Mudos/ Fevereiro" e o repeteco de "O Homem que Não Vendeu Sua Alma". Debaixo de muitos, muitos aplausos e gritos (Picassos! Picassos!) o show findou. Foram 90 a 100 minutos de um puta show. Encerramento digno de uma grande banda. Aquela sensação de que estávamos no lugar certo, no momento certo e com música de excelência. 



Lourenço Monteiro



"Vocês gostam de arte!!" - Humberto, certa vez falou ao fim de "Quadrinhos" num show em Arraial do Cabo em 1988 (no youtube tem).

Leozito Rocha


Diagramação e Edição: Leozito Rocha

Textos: Leozito Rocha e Nem Queiroz

Fotos: Nem Queiroz


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