quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Pauta de Hoje: Centro Cultural Diversa

PAUTA DE HOJE: CENTRO CULTURAL DIVERSA

SHOWS





O que tenho notado, e de modo muito prazeroso, é que enchendo ou flopando, o público tem sido, na medida do possível, bem seleto. Seleto no seguinte sentido, pessoas do meio, interessadas, produtores, músicos, entendedores da cena e de música estão se fazendo presente e isso é muito bom. E isso, antes do próprio público em geral chegar, dando então espaço e tempo para pôr o papo em dia. As pessoas se reconhecem, o papo rola macio - foi assim na noite dos Picassos Falsos e Katia Jorgensen no La Esquina na Lapa, foi assim neste último fim de semana com Gustavo Seabra da Pelvs (que vai abrir no próximo dia 3/9 para o Teenage Fanclub no Circo Voador) com presença forte no SEBO Baratos em Botafogo - da mesma forma assim também foi ontem (23) no Centro Cultural Diversa. 

Fiz questão de ir lá conferir 4 bandas com sons diferentes entre elas. Precisava saber. Me prontifiquei primeiro a fotografar, depois a resenhar e por último a ser DJ. Fui aceito nas três posições e tive que arcar com a missão e não podia falhar.





Às 21h e 40min deixei a última música do primeiro set terminar e então deu-se a mágica. A dupla HidroVoda abriu os trabalhos. E a noite mágica seguiu adiante com apresentações de mais outras 2 super duplas que abusavam, no bom sentido, é claro, de sintetizadores, pedais, guitarras, etc. Teve também uma performance  e ainda um show solo, voz e guitarra, de outro "ninguém menos" chamado Marcelo Callado. Por tudo isso a magia da noite era indubitável. A banda HidroVODA (o nome é uma simbiose dos trabalhos solos de Fernanda Metello (produtora do evento) e seu parceiro de vida e palco, o habilidoso e criativo músico/guitarrista Flávio Abbes (HidroVoda+Hidrotempotape) que deram o tom da noite já nos primeiros acordes, acompanhados de um telão que linkava imagens com o som que produziam.

Com o palco à meia luz (vermelha), a dupla entrou em cena por volta das 21:45 e tudo se transformou. Com o som pra lá de intimista, cheio de efeitos e dissonantes, a dupla fisgou a atenção da galera que em silêncio assistia a sinfonia com olhos e ouvidos aguçados, deliberando aplausos a cada fim de música. Uma apresentação de lavar a alma e os sentidos mais difusos. Em seguida, as artistas Navalha Karrera (guitarra e efeitos sonoros) e a performer Hoana Bonito nos entregou uma encenação ao som que transcendia os instintos, tinha uma relação com um jarro de flores e uma tela em branco ao ritmo lento e um tanto o quanto demorado pela repetição dos gestos que esfregava pétalas das flores no rosto numa atitude bonita de sedução e desejos oníricos no bailar das notas e efeitos que a sua parceira lançava no ar. E a cada flor degustada sua língua ganhava uma cor diferente de uma tinta escondida entre as pétalas que ela passava e repassava na tela em branco em pequenas lambidas, criando formas que lembravam lírios até formar um inteiro jardim de flores amarelas e vermelhas de caules verdes. Interessante. 










Em seguida sobe ao palco, meio que apressado com o avantajar das horas, o brother Marcelo Callado com sua super guitarra, que para descompensar a pressa, cismou de engasgar, mas com a ajuda de Greco Blue e Flávio Abbes as coisas se resolveram. 
Marcelo que tragava um charuto fino/Cigarrete com seus óculos estilosos captou de prima a atenção de todos com a seriedade de um poeta em profusão. Suas canções eram ao mesmo tempo sensíveis e fortes.  Com letras de um nível caetanistico (falei isso com ele no final) principalmente em relação a primeira música ("Amiga Lua"). Callado ora gritava e baixava o braço em sua guitarra arrancando às vezes um som gutural, ora era sublime como um cantor de bossa nova sem ser nada isso. Ele era ele, direto, sério, forte, conciso. E nos brindou com um show quase intimista não fosse a sua fúria em nos mostrar tão belas canções.






Volta a discotecagem do DJ Nem Queiroz entre os intervalos, que volta pra casa orgulhoso com elogios de dois grandes da cena: Pedro Serra e Rodrigo Lariú! No entanto, com o avançar das horas, logo ouvimos os primeiros riffs da guitarra de Greco Blue pedindo passagem. Era a vez da derradeira dupla da noite atacar. As Beattas (Greco Blue e sua companheira Michely) deram um toque mais rock'n roll à noite. Muito embora composta por uma guitarra e uma pandeirola apenas a dupla chegou chegando. Greco tem a força de uma presença peculiar, canta bem e toca também (é tbm vocalista da banda A Última Gangue. Greco é um dos meus frontman preferidos na Cena). Acompanhado pela voz e o ritmo de Michelly eles nos brindaram com suas composições autorais, destaque para a que abriu o show: uma canção chamada "J'Exus"; seu medley de pontos de Exu ao som de Bo Diddley (segundo o próprio Greco). Enfim: uma grata surpresa não só as Beattas como todos que participaram dessa noite bem singular. Bom saber que a diversidade musical dessa galera tem a força, a beleza e a coragem de ser quem são. Nada de obviedades parece ser a palavra de ordem. Muito bom!







Revisão e Edição: Leozito Rocha
Fotos e Texto: Nem Queiroz

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