domingo, 5 de outubro de 2014

Pauta de Hoje: "O Sal da Terra", "Mr. Turner", News, "David Bowie is", Émile Zola, Pink Floyd e mais...


O SAL DA TERRA

"... O documentário de Wim Wenders sobre o fotógrafo Sebastião Salgado é aplaudido de pé, por cinco minutos, em Cannes ..." Preciso falar mais alguma coisa? Até preciso... Rsrsrs... Senão o que seria dessa resenha? A abertura do Festival do Rio não poderia ser melhor. Saí da sala de cinema emocionado, impactado e auspicioso com o belíssimo documentário exibido. Digo a vocês que trata-se de um dos melhores que vi nos últimos vinte, trinta anos. Não é à toa que o cineasta Wim Wenders apaixonou-se pela obra e pela vida de Sebastião Salgado. O fotógrafo brasileiro, radicado na França, viveu uma vida (e ainda vive) intensa e particular. O filme mostra exatamente todo o trabalho dele através de coberturas de guerras, conflitos, catástrofes, epidemias, genocídios, mortes, etc, pelas lentes e memórias de Salgado. As fotos são lindas, poéticas, imanes... Várias vezes, durante a exibição, peguei-me deslumbrado ou emocionado. A narrativa também faz-se por poesia, de forma lírica e envolvente. Sebastião é um homem de sensibilidade ímpar. Sua mulher o acompanha em todas as jornadas e colabora de forma ativa e altiva. Um casal lindo! São seres especiais. Cada pessoa que assistir ao filme sentirá isso. Wenders habilmente passa pelos principais temas que deram origem aos livros de fotografia desse genial artista. É deslumbrante seu olho artístico em cada foto, cada momento capturado, cada cenário consumido. Nosso artista é um dos mais renomados fotógrafos mundiais, e fiquei pensando que, ao menos, 80% das pessoas no Brasil nem o conhece. Porém, não há nenhuma menção acerca disso no doc. Foi apenas uma constatação infeliz que esse quem vos escreve pensou, de fato. Importante ressaltar que o trabalho de Wenders foi feito juntamento com Juliano Salgado, filho de Sebastião. Juliano aprendeu com o pai a labuta e tornou-se um fã e parceiro dele. São quase 120 minutos de narrativa pelas emblemáticas fotografias do artista. Desde Serra Pelada a Galápagos (cenas chocantes, sobretudo são mostradas). Engana-se quem pensa que tudo são flores... Não. No miolo do documentário somos submetidos a imagens fortíssimas e pesadas, como crianças mortas, animais dissecados, cadáveres mil e tudo que de pior a guerra e a fome pode impor. Salgado não dispensa nada. Registra tudo. Admito que, muitas das vezes fiquei horrorizado, embora tudo ali seja obra do ser humano. Infelizmente. E daí vem mais ainda o verdadeiro impacto. Se fosse resumir minha opinião acerca da película diria que é uma obra-prima. Algo obrigatório e soberbo. Sempre digo que a arte precisa mexer contigo. E essa mexe demais! Imperdível!



MR. TURNER

O novo filme Mike Leigh conta a história do bufão pintor J.M.W Turner. Pai solteiro de duas filhas e dono de um peculiar jeito e atitude, Turner é símbolo do homem do século XVIII: austero, bronco e machista. De qualquer modo, educado e vivido nas melhores instituições europeias. Convive com nobres e realezas. O pintor é reverenciado em seu tempo e vive "mui bem obrigado" com seu pai, fiel confidente. Através da habilidade de Leigh, o filme pega sua fase madura até sua morte (desculpe...rs). Fase essa que colide com as primeiras máquinas fotográficas. No papel principal - Timothy Spall - ator e parceiro de vários trabalhos do diretor. A atuação de Spall é sublime. Não conheço grandes detalhes dos traços de Turner, mas a maneira como o ator desenvolve o personagem é impagável. Não há espaço para mais ninguém no filme. Vejo no horizonte uma indicação para o Oscar (pode anotar). E, por falar nesse assunto, o trabalho técnico (costumes, roupas, cenário) deve render ao filme outras indicações. É filme talhado para tal. São 150 minutos de filme no ritmo do pintor. Rabugento, genial e controverso. O filme passa-se na antiga Inglaterra e no entorno do Tâmisa. Destaco também o trabalho dos roteiristas (acredito eu) nas pesquisas, pois existem diálogos acerca das técnicas de pintura e, sobretudo acerca das cores. Discussões profundas sobre colorações, rabiscos e luz (principalmente). Apesar de estar cansado (saí de um filme e fui para o outro), soube separar meu cansaço com o longo filme. E gostei. 


DAVID BOWIE IS

Certa entrevista do líder do Echo & The Bunnymen, Ian McCulloch, ele afirma: "Certamente eu aprecio mais a obra de Bowie do que dos Beatles"... A frase tinha sentido, pois a banda nascera na mesma cidade dos "Fab Four" (Liverpool), e é isso mesmo. Mesmo com toda "beatlemania", David Bowie construiu uma carreira sólida e genial a ponto dessa comparação. E foi além... Segue, inclusive. O documentário acima é baseado na belíssima exposição sobre o artista que percorre o mundo (passando pelo Brasil). Depoimentos de diversos artistas do mundo do cinema, da moda, da música, etc, permeiam a obra e trajetória de David Jones, ou simplesmente: Bowie. O camaleão do rock mostra todo seu talento para além da música. Bowie é antes de tudo um "showman". Todas as facetas são abertas ao público. Seus desenhos, figurinos, clipes, shows, livros que influenciaram, sua verve teatral; nada fica de fora. A impressão que eu tive é que daria para fazer horas e horas de filme e permaneceríamos conhecendo e sabendo mais. Ele não para. Nunca parou. Eu, como fã, fiquei impressionado e admirado no cinema. Cada letra, cada detalhe do mundo do artista, cada fã famoso, inspirava e deixava-me emocionado. Peguei-me cantarolando diversas canções. A exposição é linda! Algo de fino gosto e surpreendente. Não tenho nada de muito cinematográfico para esmiuçar aqui, pois é bem simples: imagens de uma homenagem ao gênio. Está tudo lá. Fato que peguei quatro a cinco discos dele e deletei-me. É inerente. Recomendo a cada fá e não fã que absorva esse documentário, pois, certamente, você nunca mais será o mesmo. Fecho com uma frase do próprio Ian McCulloch ao fim da entrevista: "... Escutei "Starman" e nunca mais fui o mesmo ... Aquilo soava como nada do que eu havia escutado ..." Esse é David Bowie, senhores! Ch-ch-ch-channnnges!!!


NEWS

- Depois de quatro longos anos, a Sala Cecília Meireles será reinaugurada. A data para tal será dia 18 de novembro e terá sessões de leituras de poemas interpretados em voz e piano. Em tempo: será somente para convidados.

- "The Endless River" é o nome do próximo disco do Pink Floyd. O primeiro de inéditas após vinte anos. A gravação foi feita antes da morte de Rick Wright. A previsão de lançamento será em novembro, dia 10.

- O ultra clássico "Thriller" de Michael Jackson será visitado. O clipe mais famoso da história do pop terá uma versão 3D para o ano que vem. O diretor John Landis conseguiu, finalmente, o parecer jurídico para tal. A conferir!

- Esquentam as vendas do Lollapalooza... O Festival que acontecerá em março, em São Paulo (Interlagos) vem crescendo na procura de ingressos. Mas, as atrações ainda não foram divulgadas. É isso mesmo? O brasileiro está se dando esse luxo? Comprar (e não é barato) no escuro? Oxe...


DICA

Reedição do clássico
"A Besta Humana"
Émile Zola
Editora Zahar
368 páginas

TRACKLIST

Heart of Darkness (Pere Ubu)
Firecracker (Half Japanese)
Girls Talk (Dave Edmunds)
I'm a man (Smoove)
Bombtrack (Jazz Against the Machine)
Take Out (The Sound Defects)
Afternoon Soul (Gramatik)


RIP.

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