FABLES OF THE RECONSTRUCTION
Você pode tanto chamar o disco como acima ou invertê-lo: "Reconstruction Of The Fables". Não importa. O título ficou a cargo do público. E na capa mesmo fica notório. Esse é o terceiro álbum da banda, depois dos dois fabulosos "Reckoning" (84) e "Murmur" (83). Essa fase independente da banda é irretocável: viria depois "Lifes Rich Pageant" e "Document" para fechar a fase IRS. É de ouro tudo que eles fizeram. Sem mencionar o EP de início "Chronic Town" lançado em 81. Toda essa era colocou a banda no simples status de "Melhor banda americana independente". Ou "Melhor banda alternativa americana" ou simplesmente como estampou anos depois a Rolling Stone: "Number One With An Atitude" (eu tenho na minha parede essa moldura). Porque foi mesmo. Considero o Sonic Youth e o REM como os pilares de tudo que veio depois nos EUA. Mas, voltando... O disco foi gravado na Inglaterra. Era a primeira vez que eles saíam da América para gravar. Trocaram de produtor e fizeram o mais sombrio álbum deles dessa primeira fase. Não por acaso, o disco é cercado de divergências e mistérios. Mesmo depois deles terem alcançado um certo sucesso com os dois discos anteriores, havia muita tensão nas gravações. Bill Berry dissera uma vez que a banda quase terminou. Stipe mencionou que houve turbulência em Londres, mas considera o disco bom. Peter Buck sugeriu uma discussão nesse período também... Enfim... Se houve foi pro bem do rock, pois há nesse disco algo distinto de todos os outros discos dessa época: um "grito" country, psicodélico e folk só exposto anos e anos depois em "Out Of Time" e bastante em "Automatic For The People". Canções como "Maps And Legends", "Green Grow The Rushes" fazem extremo sentido se comparadas com as baladas que viriam depois. E, se distanciavam por completo do ritmo imposto em "Murmur", por exemplo. "Driver 8" tem um baixo lindo e dava uma ideia que o som mudara. A banda desacelerava e passava a dar mais sentidos as letras e as harmonias. Não que não fosse dado antes, mas a própria banda confessou anos depois que "com o passar do tempo desaceleraram o ritmo pois estavam mais confiantes". E o baixo de Mike Mills solidifica como protagonista também ao lado da guitarra de Buck. Antes, mais puxada para "Byrds" ou "Velvet", o guitarrista desfiou um leque muito bom de riffs e reposicionou o som da banda: mais denso, forte, etéreo e pesado (no sentido das sílabas musicais). Decididamente é o mais excêntrico do REM. "Feeling Gravitys Pull", a faixa de abertura é forte. Buck abusa de notas com efeito... O clima é bem mais "gótico"... "Old Man Kensey" - outra canção calma, porém com climão folk rock e cordas. "Kohoutek" é a primeira letra mais ousada e direta de Stipe. Uma canção romântica, mas simbólica. A letra faz alusão ao Cometa, porém o vocalista nunca foi muito fácil com suas letras. Tinha americano, ainda, que mencionava não entender o som das palavras do cantor. Sério. Não era somente o som, mas as palavras também. Imagine nós brasileiros? Rsrsrsrsrs... Michael afirmou uma vez que criou algumas letras sem a menor intenção de que o público entendesse mesmo. Porém, afirmou em outro tempo que evoluiu bastante como letrista. E isso fica evidente a partir de 85 para 86... A política entra de vez na vida da banda. Mas, essa é outra história... "Life and How to Live It" é uma canção com andamento similar ao início do som deles... Eu adoro essa faixa. Nas letras, Stipe fala claramente de Athens, terra natal da banda. E, muito do sotaque sulista americano. Referências mil nesse disco. A canção "Can't Get There From Here" - uma espécie de forró com country é uma gíria do sul para mencionar as estradas e seus viajantes que pedem carona para os lugares mais estranhos possíveis... Ninguém entendeu na época. Claro! "Auctionner" é a minha predileta. Rockão do bom... Punk rock, baixão no estilo - uma estranha no ninho obscuro do disco. A faixa é bem rock e cool... Uma puta sacada deles. "Good Advices" é um hino ao povo "indie" e "shoegazer" que viria depois. Uma baixo fodão e fofo. Pode colocar lado a lado de qualquer grande canção indie e perceberás o pioneirismo deles. Finalmente, "Wendell Gee" - uma balada linda com banjos e arranjos de violões que fecham com honras e méritos o disco. Eu escolhi falar acerca de "Fables...", pois ele fará 30 anos esse ano. E merece todo meu esforço (até parece que é) em publicá-lo. Você que admira o som deles precisa ter em mente que a fase 83-87 é obrigatória. Ali estão tudo que os caras suaram e marcaram no som americano, na cena independente, nas "colleges radios" e todo alternativo que viria após... Pode buscar os discos todos. Se precisar de ajuda é só chamar. Pouca coisa me dá tanto prazer como falar de música. Quiçá do Fab Four da Georgia. Já dediquei espaços enormes como esse para os álbuns anteriores. Ano que vem trago outro! Rsrsrsrs... 30 anos de Fables!!!! Yeaaaaah!
AND COUNTING...
Nessa época já estavam prontas as famosas "faixas Side B" ou outtracks como se fala. Ou seja: canções que foram deixadas de lado e não entraram em nenhum disco. Noooooossa! É de doer o coração. Eu tenho uma caixa inteira só com elas... É cada petardo, cada sonzeira que deixa qualquer um questionando o critério adotado para "jogar fora" as músicas. Só como exemplo eu posso dar algumas aqui: "Burning Hell", "Voice Of Harold" (espécie de "So. Central Rain" com outra letra), "Ages Of You", Windout", "Bandwagon", "Walter's Theme", "Rottary Ten", "White Tornado", "All The Right Friends" e mais um monte. Decerto que eles se arrependeram e muitas dessas e outras entraram no famoso "Dead Letter Office" - uma espécie de coletânea de covers, B-sides, etc lançado pela banda ainda em 87. Na versão brasileira ainda vem com as cinco faixas do EP "Chronic Town" e a capa original dentro. Yeahhhh! O último registro deles pela IRS. Mas, é foda... Fica a sensação que os rapazes estavam férteis demais... Rsrsrsrs... Ainda bem, que como pesquisador, eu tenho muito material deles em casa. Alguns nem mais usáveis como cassetes alternativos ou gravações super toscas deles em locais ermos. Mas, são raridades que guardo com imenso carinho. Use e abuse deles, galera! Rooock!
NEWS
- Faleceu ontem a professora, atriz e crítica teatral Bárbara Heliodora. Ela estava internada desde o dia 21 de março no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. A causa não foi divulgada. RIP.
- Morreu também ontem a atriz Judith Malina aos 85 anos. Ela e seu marido fundaram o "Living Theatre". A atriz participou de filmes consagrados como "A Família Addams", "Um Dia de Cão" (mãe de Pacino) e "A Era do Rádio" de Woody Allen... Vítima de câncer no pulmão. RIP.
- Toda essa história sobre o avião que caiu nos alpes franceses e o co piloto "suicida" é extremamente louca. O suicídio por si só, já é algo inexplicável e cercado de mistérios filosóficos, quiçá culminado com um ato "terrorista"... Depressão? Terrorismo? Loucura? Nada disso satisfaz ou explica o episódio. Vamos demorar anos para compreender o quê, de fato, aconteceu nesse dia.
- Independente do que está por trás dessa reconciliação entre EUA e Cuba, e o que dizem os pessimistas, eu acho benéfico o diálogo. Não sei especular o que será desse papo e os desdobramentos, porém já passou faz tempo o fim do embargo e a questão de Guantânamo. Resta forçar cada vez mais os diálogos e a paz aqui nas Américas.
MAIORIDADE PENAL
Conforme eu mencionei num post antigo eu sempre questionei a eficácia da redução da maioridade penal. Se é melhor os dezoito anos ou dezesseis... Sinceramente, eu não sei. Li e escutei ótimos argumentos dos dois lados. Juro. Pessoas do meio e de qualidade irrefutável. Achei bem equilibrado. Mas, fato é que a Câmara votou "sim" para a diminuição. Falta o Senado. Porém, nada disso resolve ou alivia nossos problemas penais. Muito mais do que alterar a idade está o peso do falido sistema penitenciário. Falando em miúdos: celas imundas, processos ultrapassados, lotação hedionda nos presídios, processos sem julgamentos, lentidão burocrática, judiciário leviano e nada idôneo, etc... Ou seja: todo um rol de erros e crimes ANTES mesmo dos crimes em si. Não adianta tirar o sofá ou trocar por outro móvel um lugar condenado e imundo. Precisamos avançar, dialogar e esgotar todo processo do começo ao fim. E, pensar sempre em educação como saída, como prevenção, como alimento, como o começo de tudo. Nunca teremos uma redução significativa na violência sem tocarmos no assunto: educação! É daí que oriunda quase tudo. O resto é patologia!
TRACKLIST
Ages Of You (REM)
Burning Down (REM)
Letter Never Sent (REM)
Laughing (REM)
Maps And Legends (REM)
Wendell Gee (REM)
Voice Of Harold (REM)
CLIC.