DISCOS
Numa rápida recordação de vinis, cds ou K-7s (sim, ainda os tenho em boa quantidade) fui incumbido de tentar relacionar alguns de minha predileção. Sempre tenho pronta na ponta da língua: não consigo. É como perguntar: qual é o seu livro predileto? Ou: qual é a sua canção predileta? Filme? Não tem a menor lógica. É muita coisa. E eu sou homem de infindáveis gostos e teores. Não suporto a ideia de "limitar" as coisas. Gosto sempre de manter a mente aberta e antenada para tudo. Porém, fui seduzido para colocar discos especiais. Sem contornos históricos ou de relevância musical. Algo pessoal e íntimo. Pura relação sentimental ao longo da minha vida. Hmmm... Aí muda bastante. Mesmo assim, relutei. A ideia de fechar algo me parece desconfortável. Precipitado, sabe? Brrrr... Enfim... Selecionei "de orelha" aqui dez discos que foram importantes em certos momentos da minha vida, contudo, aviso que está valendo por ora... A qualquer momento tudo isso aqui pode mudar e não ser nada disso...Rsrsrsrs... Ok? (Não há ordem...)
Songs Of Love And Hate (Leonard Cohen) - 1971
O disco preto e, segundo dizem: álbum para se cortar os pulsos! Hahahaha... Nada disso. Primeira vez que eu ouvi foi em casa, de tarde, estava nublado. Lembro-me de ter uma garrafa de vinho (vagabunda) e meu corpo estar exposto... Ao começar "Avalanche"... Senti algo extraordinário. Soava como algo escondido dentro de mim. Fiquei emocionado. Eu tenho a nítida impressão que algo em mim mudou naquela tarde. Juro.
Murmur (REM) - 1983
Primeiro disco oficial da banda. Antes eles tinha lançado o EP Chronic Town. Mas, esse foi a primeira coisa que ouvi deles. Claro que já tinha ouvido "The One I Love", "Stand" e "Losing My Religion", porém, fui atrás de todos os discos. E, ouvi na ordem. Escutei com amigos e começou meu amor. Adorei "Perfect Circle" e "We Walk". Esse disco embalou duas viagens minhas com amigos. Até hoje carrego na lembrança aquela turma com o som desse disco. É lindo.
Metal Box (PIL) - 1979
Sempre que assistia qualquer coisa dos Pistols, a figura de John Lydon (ex-Rotten) chamava-me atenção. Achava bacana. Era diferente de todos os outros. Mais visceral e debochado. Comprei o "First Issue" (que é maravilhoso), o primeiro álbum deles, mas fui fisgado pelo som imponente, punk, pungente, foda, de Metal Box (ou "Second Edition). Uma caixa com tiragens limitadas lançada pelo PIL. Tudo ali é impressionante. O peso do som, os vocais de John, os músicos (Keith Levene, Jah Wobble e Jim Walker), a capa, a duplicidade (ele é duplo), o hermético. Ninguém escuta esse trabalho e fica impassível.
Aion (Dead Can Dance) - 1990
Sim, amigos... Já houve um gótico dentro de mim. De produção e o cacete. Você imagina como um rapaz empolgado, sensível e excêntrico reagiu a escutar DCD. Tive uma camisa deles, inclusive. Feita por mim. Rsrsrsrs... Fato é que eu escutava dias a fio esse disco. A voz de Lisa Gerrard e Brendan Perry me pegaram de jeito. Imagine? Um canto gregoriano, músicas clássicas, poesia européia e pintura (na capa). "As The Bell Rings The Maypole Spins", "Black Sun" e "Radharc" eram as que mais giravam... E eu hipnotizado, hirto, ouvia fascinado todas as notas. Acredito que sofri uma lavagem de espírito e voltei diferente! Rsrsrs...
Jordan: The Comeback (Prefab Sprout) - 1990
Eu considero esse disco algo próximo da perfeição pop. Simples assim. O que torna-se curioso, pois eu me lembro exatamente da sensação de quando escutei esse trabalho: estranhamento. Quase odiei. Rsrsrs... Juro. Perdi o momento da virada... Só sei que tudo que eu havia odiado mudou. Passei a venerá-lo. Foi um dos discos meus de cabeceira. E, cada vez que ouço eu percebo como é belo! Tudo. Um acabamento de primeira linha. Quase não entendo como pude desprezar algo tão sofisticado e fino. Quiçá todo disco pop tivesse essa riqueza de detalhes e esse bom gosto musical.
Ege Bamyasi (CAN) - 1972
Esse eu ouvi na casa de um amigo. "Embalado" mesmo. Imagine o resultado? Saí maravilhado de lá. Peguei os três primeiros e ouvi sem cessar. Mas, mesmo com a aura toda cercada no entorno de "Tago Mago" - Esse, "Ege Bamyasi", é o que ficou em mim. Todo aquele som traduziu de uma forma positiva. "Era isso"! Um som visceral, selvagem, criativo, genial... "Spoon", "Vitamin C" e "I'm So Green" é uma aula de som. Impossível ficar calado depois de escutar um troço desse. E, ainda tinha um japonês, Damo Suzuki, numa banda alemã... Rsrsrs... Falar o quê?
Low (David Bowie) - 1977
Mais uma da safra "discos que levei na viagem". E, com trocadilho, por favor. Viajei MESMO no som, na concepção e no clima. Sem saber que estava ouvindo algo extraordinário. Sim, claro. Nós só temos a noção de que algo é genial quando há o distanciamento certo. E era o caso. Adorei e fixei tudo. Mas, só fui saber da importância desse trabalho com o tempo. De qualquer modo - aqui não estão os discos importantes da história da música (como eu avisei acima), e sim de importância sentimental. "Low" tem exatamente a medida certa de um tempo maravilhoso da minha vida. Os excessos, os amigos, as paixões, a juventude efervescente... Algo que Bowie trabalhou em Berlim e ressoou bem demais aqui no Rio de Janeiro. Foda!
Bom... Esses foram sete discos de minha memória afetiva. Repito: se são discos relevantes para a música é meramente coincidência. São todos especiais, pois embalaram um tempo na minha vida. Próximo "post" eu coloco mais sete.
SICARIO
O filme de Denis Villeneuve mostra exatamente o retrato do cartel mexicano. Um dos mais violentos e sangrentos atualmente. Juntamente com a máfia russa e japonesa. Mas, aqui o papo é polícia versus traficante. Lendo as críticas ao filme percebi que tratava-se de um "triller" policial com doses elevadas de sangue, tiro e mortes. "Sicario" é um termo que mudou o sentido léxico com o passar do tempo. Significa: "pessoa contratada para qualquer espécie de crime". Alguma diferença de mercenário ou bandido de aluguel? Pois é... No filme estão Emily Blunt (uma agente do FBI com valores éticos) que cai como "isca" nesse cenário. Benício Del Toro (homem pra lá de duvidoso) e Josh Brolin (como responsável pela força-tarefa). São as figuras centrais de toda trama. E, tudo na verdade resume-se na tal força-tarefa para combater o tráfico mexicano perto da fronteira com os EUA. Para tal, toda e qualquer força será necessária. O diretor de "Os Suspeitos" mostra uma câmera nervosa e tensa. Certas tomadas são bem caprichosas. Perde-se até o fôlego. Tudo com com muito talento. Além disso, Villeneuve desenvolve com muito dom todo o roteiro sem perder o ritmo (denso) e cair no óbvio. Uma das lições que tira-se no filme é que nesse ambiente (narcotráfico) para executar as missões a polícia precisa rasgar seu manual de regras morais e "jogar o jogo" como seu oponente o faz. Sem julgamento de certo ou errado. Como bem dizia, Escobar: plata o plomo! Mas, aqui é plomo! Por fim, li a respeito de alguns que tratava-se de um filme fascista. Bom... Se é ou não, pouco importa. A real é que é assim que tem-se combatido o narcotráfico. Gostem ou não. Bom filme!
FEIRA DA PROVIDÊNCIA
Começou hoje a Feira mais democrática e bacana. Sempre curti o teor e as comidas que lá estão. Pena que perdeu-se muito do que era antes ao que tem-se hoje. Menos dias e opções. Isso remete-me aos tempos juvenis e que eu pegava um transporte público em busca de distração. Ora fosse com amigos ou com família. A Feira vai de hoje (25) até o domingo (29) próximo. Corra que dá tempo!
TRACKLIST
Black Sun (Dead Can Dance)
Saltarello (Dead Can Dance)
Mephisto (Dead Can Dance)
Radharc (Dead Can Dance)
Ullyses (Dead Can Dance)
Wilderness (Dead Can Dance)
BUM!