quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Pauta de Hoje: The Danish Girl, Os Afro Sambas, News, Censura (Tribunal de Idiotas), Michael Moore e mais...


A GAROTA DINAMARQUESA

Lançado como "The Danish Girl" no exterior, o filme baseado no romance de David Ebershoff conta a história de um pintor, Einar Wegener, que sentia-se preso ao próprio corpo. Sua esposa também era pintora (Gerda Wegener) e pedia vez em quando para o seu cônjuge vestir uma meia calça (o termo não devia ser esse, mas...) ou pintar o rosto, ou até mesmo usar uma peruca quando não haviam amigas por perto no apartamento deles. Servir-se de modelo mesmo. Muito comum nos atelieres à época. As pinturas precisavam ser fiéis. Entre um "favor" e outro, Einar começa a sentir uma feminização. Percebe que seu corpo é masculino, porém seus desejos, sua cabeça e sensibilidade é bem feminina. Ora alguma no filme a palavra homossexualismo é explícita e o personagem central não sente-se atraído por homens. É o corpo que o deprime. Ele deseja ser uma mulher. Sua esposa estranha, mas passa a apoiar o marido. Essa história foi real, apesar de algumas alterações bruscas terem sido feitas. A crítica acusou isso. Havia uma erotização maior entre Gerda e Lilli (o nome que Einar passou a adotar como mulher). Para situar o leitor - estamos falando dos anos 20 para 30. Não havia nada parecido com transexuais ou travestis. Simplesmente era-se homem ou mulher. Mesmo os gays permaneciam fisicamente como homens. O desespero de Lili (Einar já como mulher) é enorme. Procura tratamentos psíquicos, medicinais, etc... Ele abdica de sua carreira e de sua existência, já que passa a viver como Lili. Até conhecerem um médico que afirma fazer tal operação e transformar Lili em mulher, de fato e carne. Bom... A partir daí é cinema... Sei que fui além da sinopse, e dei "spoiler", porém ninguém pode deixar de ver. É extremamente lírico, belo e angustiante. A frustração e impotência humana posta em exaustão. Questões polêmicas e morais postas à prova e despida. É um roteiro corajoso e muito bem dirigido. Fiquei imerso na trama. Tudo é colocado de maneira simples, mas objetiva. Sem apelos. Sem "lugar-comum". Absolutamente. Isso é que impressiona mais. Pois, se estivéssemos abordando tal assunto nesse século seria mais direto. Talvez escrachado. Contudo, estamos voltando quase cem anos atrás. É muita coisa. Freud já existia e ficaria fascinado com tal celeuma. Mesmo assim - o tema é tratado pela comunidade médica como "esquizofrenia", "perversão sexual" e "homossexualismo" simples. Mas, Lili segue com Gerda casados. Tornam-se um casal de mulheres. Os personagens são interpretados por Eddie Redmayne (fez "A Teoria de Tudo") mesmo quando "Lili" e Alicia Vikander (Hotell). Ambos estão sensacionais. Foram indicados para "melhor ator" e "melhor atriz-coadjuvante" respectivamente. Merecidos, sobretudo. Eddie faz um transexual incrível. É uma atuação magnífica e tocante. Impressiona. Se LeoDicaprio não estivesse no páreo era dele a estatueta. Uma composição de personagem e atuação rara. De lembrar velhos clássicos. O filme vai estrear no Brasil no dia 25 de fevereiro, três dias antes da cerimônia. Vamos aguardar o que a Academia irá dizer do filme. Recomendo muito. 


Veja o Trailer

https://www.youtube.com/watch?v=d88APYIGkjk

OS AFROS SAMBAS

Segundo disco da dupla Baden Powell e Vinicius de Moraes - esse clássico da MPB fez no dia 3 de janeiro cinquenta anos. Para quem não o conhece - este é simplesmente um trabalho que separa a música popular no país. O poetinha afirma que recebeu um disco de samba de roda da Bahia e resolveu junto com Powell adicionar aqueles elementos do candomblé e da umbanda. Entravam os atabaques e afoxés para misturarem-se aos agogôs e pandeiros. Os arranjos e regências de instrumentos de sopros e tal ficaram por conta do maestro Guerra Peixe. Além disso, o disco contou com os vocais das meninas do Quarteto em Cy. Ficou algo de uma musicalidade ímpar. É tudo da África para cá. Não há nada na Europa ou na América que assemelha-se a sonoridade desse álbum. Impressionante. A brilhante ideia dos dois resultou no maior disco de música nacional. Em diversos ângulos. Histórico, musical. técnico e autêntico... Claro que outros discos disputam igual importância, estou forçando um pouco a barra, porém é vital para o Tropicalismo que viria depois. Toda brasilidade do século XX e do século de hoje bebe, também, desse. Nesse mesmo ano (66) o jovem Chico Buarque lança seu primeiro disco (o da famosa capa com as duas fotos dele - uma alegre e outra séria). Ótimo, por sinal. Mas, não tenham dúvidas quanto a fundamentalidade dessa obra. Ecoa em "Acabou Chorare", "A Tropicália", "Mutantes" e até nos Secos & Molhados. Enquanto a Jovem Guarda preocupava-se em replicar o rock americano e Tom e João Gilberto serviam à bossa-nova - aqui a dupla supra citada revolucionava geral. No mundo, os Beach Boys lançavam o formidável "Pet Sounds" (disputa cabeça a cabeça a liderança de álbum de rock mais importante da história do gênero), os Beatles responderam com "Revolver" (menor do que o Pet Sounds, mas precursor do Sgt. Peppers), além de "Blonde On Blonde" de Dylan. Havia uma psicodelia no ar... Engana-se quem acha que "Os Afro Sambas" não desperta esse lado. Ah, sim. E muito. É uma viagem mística escutar esse disco. Até nisso a dupla ganhou pontos. Seus elementos reunidos produziam uma psicodelia bem brasileira. Não é lisérgico como os trabalhos estrangeiros, porém é ritualista e hipnótico. Um disco para ter-se em casa. Em vinil, cassete, CD ou Mp3... Não importa. Ah, sim... Citar quatro canções (preferência minha) das oito originais do disco: "Canto de Ossanha" (a mais importante do álbum), "Canto de Oxô", "Tempo de Amor" e "Canto de Iemanjá". Escute! Aproveite.


Ouça "Canto de Ossanha":

https://www.youtube.com/watch?v=B6445JAN5-M

NEWS

- O que dizer da ridícula proibição em comercializar a obra "Mein Kampf" chancelada pelo TJ-RJ? Hahahaha.... Um juiz (imbecil) achou por bem vetar qualquer ação das editoras cariocas. Censura explícita e a certeza de que existe um pensamento reacionário, hipócrita e demagogo dentro do sistema. Terrível essa notícia. Um retrocesso de um coletivo tácito e teimoso querendo estabelecer ordem e progresso através de ordens judiciais. Escroto. Quase um atestado de burrice. 

- Graças a uma amiga (Obrigado, Mari) minha irei ao show dos Rolling Stones. A turnê já começou e o set-list também já foi liberado. Agradou-me. Tem canções ali que não vi, ao vivo, nas duas vezes que assisti a um show deles. Vamos ver...

- O cineasta Michael Moore, enfim, deixou o hospital. Ele foi internado na sexta (5) por conta de uma pneumonia. Não citou o nome do local, mas fica em Nova York. Justamente por sua crítica ao sistema de saúde americano, Moore elogiou o tratamento e ficou satisfeito. Que bom... Rsrsrsrs...

- O diretor Tim Burton (foto) está no Brasil e assistiu aos desfiles de samba. Ficou encantado, claro. Mas, o que chamou-me a atenção foi o seu comentário acerca da Mostra que está em cartaz em Sampa: "... Se a ideia era entrar na minha cabeça, deu certo ..." Opa! E a gente agradece. Era o mote, né?



TRACKLIST

Dum Dum Girl (Talk Talk)
Talk Talk (Talk Talk)
Good Vibrations (The Beach Boys)
Barbara Ann (The Beach Boys)
She's Leaving Home (The Beatles)
Getting Better (The Beatles)


RIP.

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