A GAROTA DINAMARQUESA
Lançado como "The Danish Girl" no exterior, o filme baseado no romance de David Ebershoff conta a história de um pintor, Einar Wegener, que sentia-se preso ao próprio corpo. Sua esposa também era pintora (Gerda Wegener) e pedia vez em quando para o seu cônjuge vestir uma meia calça (o termo não devia ser esse, mas...) ou pintar o rosto, ou até mesmo usar uma peruca quando não haviam amigas por perto no apartamento deles. Servir-se de modelo mesmo. Muito comum nos atelieres à época. As pinturas precisavam ser fiéis. Entre um "favor" e outro, Einar começa a sentir uma feminização. Percebe que seu corpo é masculino, porém seus desejos, sua cabeça e sensibilidade é bem feminina. Ora alguma no filme a palavra homossexualismo é explícita e o personagem central não sente-se atraído por homens. É o corpo que o deprime. Ele deseja ser uma mulher. Sua esposa estranha, mas passa a apoiar o marido. Essa história foi real, apesar de algumas alterações bruscas terem sido feitas. A crítica acusou isso. Havia uma erotização maior entre Gerda e Lilli (o nome que Einar passou a adotar como mulher). Para situar o leitor - estamos falando dos anos 20 para 30. Não havia nada parecido com transexuais ou travestis. Simplesmente era-se homem ou mulher. Mesmo os gays permaneciam fisicamente como homens. O desespero de Lili (Einar já como mulher) é enorme. Procura tratamentos psíquicos, medicinais, etc... Ele abdica de sua carreira e de sua existência, já que passa a viver como Lili. Até conhecerem um médico que afirma fazer tal operação e transformar Lili em mulher, de fato e carne. Bom... A partir daí é cinema... Sei que fui além da sinopse, e dei "spoiler", porém ninguém pode deixar de ver. É extremamente lírico, belo e angustiante. A frustração e impotência humana posta em exaustão. Questões polêmicas e morais postas à prova e despida. É um roteiro corajoso e muito bem dirigido. Fiquei imerso na trama. Tudo é colocado de maneira simples, mas objetiva. Sem apelos. Sem "lugar-comum". Absolutamente. Isso é que impressiona mais. Pois, se estivéssemos abordando tal assunto nesse século seria mais direto. Talvez escrachado. Contudo, estamos voltando quase cem anos atrás. É muita coisa. Freud já existia e ficaria fascinado com tal celeuma. Mesmo assim - o tema é tratado pela comunidade médica como "esquizofrenia", "perversão sexual" e "homossexualismo" simples. Mas, Lili segue com Gerda casados. Tornam-se um casal de mulheres. Os personagens são interpretados por Eddie Redmayne (fez "A Teoria de Tudo") mesmo quando "Lili" e Alicia Vikander (Hotell). Ambos estão sensacionais. Foram indicados para "melhor ator" e "melhor atriz-coadjuvante" respectivamente. Merecidos, sobretudo. Eddie faz um transexual incrível. É uma atuação magnífica e tocante. Impressiona. Se LeoDicaprio não estivesse no páreo era dele a estatueta. Uma composição de personagem e atuação rara. De lembrar velhos clássicos. O filme vai estrear no Brasil no dia 25 de fevereiro, três dias antes da cerimônia. Vamos aguardar o que a Academia irá dizer do filme. Recomendo muito.
Veja o Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=d88APYIGkjk
OS AFROS SAMBAS
Segundo disco da dupla Baden Powell e Vinicius de Moraes - esse clássico da MPB fez no dia 3 de janeiro cinquenta anos. Para quem não o conhece - este é simplesmente um trabalho que separa a música popular no país. O poetinha afirma que recebeu um disco de samba de roda da Bahia e resolveu junto com Powell adicionar aqueles elementos do candomblé e da umbanda. Entravam os atabaques e afoxés para misturarem-se aos agogôs e pandeiros. Os arranjos e regências de instrumentos de sopros e tal ficaram por conta do maestro Guerra Peixe. Além disso, o disco contou com os vocais das meninas do Quarteto em Cy. Ficou algo de uma musicalidade ímpar. É tudo da África para cá. Não há nada na Europa ou na América que assemelha-se a sonoridade desse álbum. Impressionante. A brilhante ideia dos dois resultou no maior disco de música nacional. Em diversos ângulos. Histórico, musical. técnico e autêntico... Claro que outros discos disputam igual importância, estou forçando um pouco a barra, porém é vital para o Tropicalismo que viria depois. Toda brasilidade do século XX e do século de hoje bebe, também, desse. Nesse mesmo ano (66) o jovem Chico Buarque lança seu primeiro disco (o da famosa capa com as duas fotos dele - uma alegre e outra séria). Ótimo, por sinal. Mas, não tenham dúvidas quanto a fundamentalidade dessa obra. Ecoa em "Acabou Chorare", "A Tropicália", "Mutantes" e até nos Secos & Molhados. Enquanto a Jovem Guarda preocupava-se em replicar o rock americano e Tom e João Gilberto serviam à bossa-nova - aqui a dupla supra citada revolucionava geral. No mundo, os Beach Boys lançavam o formidável "Pet Sounds" (disputa cabeça a cabeça a liderança de álbum de rock mais importante da história do gênero), os Beatles responderam com "Revolver" (menor do que o Pet Sounds, mas precursor do Sgt. Peppers), além de "Blonde On Blonde" de Dylan. Havia uma psicodelia no ar... Engana-se quem acha que "Os Afro Sambas" não desperta esse lado. Ah, sim. E muito. É uma viagem mística escutar esse disco. Até nisso a dupla ganhou pontos. Seus elementos reunidos produziam uma psicodelia bem brasileira. Não é lisérgico como os trabalhos estrangeiros, porém é ritualista e hipnótico. Um disco para ter-se em casa. Em vinil, cassete, CD ou Mp3... Não importa. Ah, sim... Citar quatro canções (preferência minha) das oito originais do disco: "Canto de Ossanha" (a mais importante do álbum), "Canto de Oxô", "Tempo de Amor" e "Canto de Iemanjá". Escute! Aproveite.
Ouça "Canto de Ossanha":
https://www.youtube.com/watch?v=B6445JAN5-M
NEWS
- O que dizer da ridícula proibição em comercializar a obra "Mein Kampf" chancelada pelo TJ-RJ? Hahahaha.... Um juiz (imbecil) achou por bem vetar qualquer ação das editoras cariocas. Censura explícita e a certeza de que existe um pensamento reacionário, hipócrita e demagogo dentro do sistema. Terrível essa notícia. Um retrocesso de um coletivo tácito e teimoso querendo estabelecer ordem e progresso através de ordens judiciais. Escroto. Quase um atestado de burrice.
- Graças a uma amiga (Obrigado, Mari) minha irei ao show dos Rolling Stones. A turnê já começou e o set-list também já foi liberado. Agradou-me. Tem canções ali que não vi, ao vivo, nas duas vezes que assisti a um show deles. Vamos ver...
- O cineasta Michael Moore, enfim, deixou o hospital. Ele foi internado na sexta (5) por conta de uma pneumonia. Não citou o nome do local, mas fica em Nova York. Justamente por sua crítica ao sistema de saúde americano, Moore elogiou o tratamento e ficou satisfeito. Que bom... Rsrsrsrs...
- O diretor Tim Burton (foto) está no Brasil e assistiu aos desfiles de samba. Ficou encantado, claro. Mas, o que chamou-me a atenção foi o seu comentário acerca da Mostra que está em cartaz em Sampa: "... Se a ideia era entrar na minha cabeça, deu certo ..." Opa! E a gente agradece. Era o mote, né?
TRACKLIST
Dum Dum Girl (Talk Talk)
Talk Talk (Talk Talk)
Good Vibrations (The Beach Boys)
Barbara Ann (The Beach Boys)
She's Leaving Home (The Beatles)
Getting Better (The Beatles)
OS AFROS SAMBAS
Segundo disco da dupla Baden Powell e Vinicius de Moraes - esse clássico da MPB fez no dia 3 de janeiro cinquenta anos. Para quem não o conhece - este é simplesmente um trabalho que separa a música popular no país. O poetinha afirma que recebeu um disco de samba de roda da Bahia e resolveu junto com Powell adicionar aqueles elementos do candomblé e da umbanda. Entravam os atabaques e afoxés para misturarem-se aos agogôs e pandeiros. Os arranjos e regências de instrumentos de sopros e tal ficaram por conta do maestro Guerra Peixe. Além disso, o disco contou com os vocais das meninas do Quarteto em Cy. Ficou algo de uma musicalidade ímpar. É tudo da África para cá. Não há nada na Europa ou na América que assemelha-se a sonoridade desse álbum. Impressionante. A brilhante ideia dos dois resultou no maior disco de música nacional. Em diversos ângulos. Histórico, musical. técnico e autêntico... Claro que outros discos disputam igual importância, estou forçando um pouco a barra, porém é vital para o Tropicalismo que viria depois. Toda brasilidade do século XX e do século de hoje bebe, também, desse. Nesse mesmo ano (66) o jovem Chico Buarque lança seu primeiro disco (o da famosa capa com as duas fotos dele - uma alegre e outra séria). Ótimo, por sinal. Mas, não tenham dúvidas quanto a fundamentalidade dessa obra. Ecoa em "Acabou Chorare", "A Tropicália", "Mutantes" e até nos Secos & Molhados. Enquanto a Jovem Guarda preocupava-se em replicar o rock americano e Tom e João Gilberto serviam à bossa-nova - aqui a dupla supra citada revolucionava geral. No mundo, os Beach Boys lançavam o formidável "Pet Sounds" (disputa cabeça a cabeça a liderança de álbum de rock mais importante da história do gênero), os Beatles responderam com "Revolver" (menor do que o Pet Sounds, mas precursor do Sgt. Peppers), além de "Blonde On Blonde" de Dylan. Havia uma psicodelia no ar... Engana-se quem acha que "Os Afro Sambas" não desperta esse lado. Ah, sim. E muito. É uma viagem mística escutar esse disco. Até nisso a dupla ganhou pontos. Seus elementos reunidos produziam uma psicodelia bem brasileira. Não é lisérgico como os trabalhos estrangeiros, porém é ritualista e hipnótico. Um disco para ter-se em casa. Em vinil, cassete, CD ou Mp3... Não importa. Ah, sim... Citar quatro canções (preferência minha) das oito originais do disco: "Canto de Ossanha" (a mais importante do álbum), "Canto de Oxô", "Tempo de Amor" e "Canto de Iemanjá". Escute! Aproveite.
Ouça "Canto de Ossanha":
https://www.youtube.com/watch?v=B6445JAN5-M
NEWS
- O que dizer da ridícula proibição em comercializar a obra "Mein Kampf" chancelada pelo TJ-RJ? Hahahaha.... Um juiz (imbecil) achou por bem vetar qualquer ação das editoras cariocas. Censura explícita e a certeza de que existe um pensamento reacionário, hipócrita e demagogo dentro do sistema. Terrível essa notícia. Um retrocesso de um coletivo tácito e teimoso querendo estabelecer ordem e progresso através de ordens judiciais. Escroto. Quase um atestado de burrice.
- Graças a uma amiga (Obrigado, Mari) minha irei ao show dos Rolling Stones. A turnê já começou e o set-list também já foi liberado. Agradou-me. Tem canções ali que não vi, ao vivo, nas duas vezes que assisti a um show deles. Vamos ver...
- O cineasta Michael Moore, enfim, deixou o hospital. Ele foi internado na sexta (5) por conta de uma pneumonia. Não citou o nome do local, mas fica em Nova York. Justamente por sua crítica ao sistema de saúde americano, Moore elogiou o tratamento e ficou satisfeito. Que bom... Rsrsrsrs...
- O diretor Tim Burton (foto) está no Brasil e assistiu aos desfiles de samba. Ficou encantado, claro. Mas, o que chamou-me a atenção foi o seu comentário acerca da Mostra que está em cartaz em Sampa: "... Se a ideia era entrar na minha cabeça, deu certo ..." Opa! E a gente agradece. Era o mote, né?
TRACKLIST
Dum Dum Girl (Talk Talk)
Talk Talk (Talk Talk)
Good Vibrations (The Beach Boys)
Barbara Ann (The Beach Boys)
She's Leaving Home (The Beatles)
Getting Better (The Beatles)
RIP.
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