Pauta de hoje: Rockarioca
Em noite fria, o rock da Móbile Drink e Cheyenne Love para esquentar!
O Rockarioca é um evento tão bem organizado, pelo sempre tranquilo e calmo, Pedro Serra, que mesmo quando as expectativas são baixas ele surpreende. Já eram pra lá de 20h, num evento que abre as portas às 19h30m, e nada de ninguém aparecer. Nem público, nem bandas, e nem mesmo gerente da casa (ocupado com a inauguração de uma nova casa noutro bairro). De repente, como num passe de mágica tudo se deu! E em questão de minutos tínhamos banda no palco, público chegando, bar funcionando. Havia um frio lá fora com promessa de chuva, e a gente sabe como carioca lida com noites assim, né? No entanto, se a casa não encheu, tampouco ficou vazia. Estou buscando eufemismos para descrever a situação, todo modo a vibe é o que importa.
E quando temos no palco bandas como a Móbile Drink e depois Cheyenne Love, isso não é problema. Por volta das 21:10h, Ronan e sua trupe - no caso da Móbile podemos dizer: família - de tanto tempo que tocam juntos, Ronan Valadão (voz); Bruno Valadão, seu irmão (bateria); Felipe Pinheiro, primo (baixo) e Leandro César, o mais novo guitarrista (e dos bons) completava o time. Leandro casou bem com a banda, com seus riffs e solos que dão um toque meio heavy no rock da banda - que aliás toca no último volume - muitas vezes até abafando a voz de Ronan, e por sua vez levantou a hipótese de ser a equalização dessa noite em particular que não valorizou a sua voz em relação a altura dos instrumentos. Ronan Valadão comanda muito bem o front com seu estiloso corpanzil, de óculos escuro e cabelos encaracolado a là Jim Morrison (é o que todos falam) como falavam também, os mais íntimos, da sua fase Eddie Vedder, que a banda também acompanhava. Mas o fato, comparações à parte, é que a Móbile sempre foi a Móbile, que tá na cena há mais de uma década, talvez duas, sempre inovando no repertório, nesse sentindo, posso dizer, que a banda é bem expansiva e produtiva. Tem no batera, seu irmão Bruno e no primo Felipe (baixo) toda a garantia de músicas bem tocadas no mais alto grau rock'n roll, e ainda mais agora com um guitarra como Leandro Cesar que trouxe (como já disse) uma roupagem mais heavy pra banda, mesmo sendo uma banda atestadamente rock'n roll. Eles são mesmo da pesada, e começam como terminam com o som sempre lá no alto. Desta vez introduziram em 3 partes do show, textos que Ronan declamava dando o "time" para que seus colegas mudassem o tom de certos números. Caiu bem, visto que poetizou um pouco mais o show sem que ninguém percebesse. A Móbile deu o start com três petardos infalíveis para levantar até defunto! Foram eles: "Mais que o demais"; a já famosa "O Rio", uma crônica sobre a cidade; e "Veneno-Chumbo", que pelo título dá para imaginar, e em seguida fechar o set com a novíssima "O Vazio", que nos fala como saber lidar com frustrações. Então mais um texto para aquele truque - na verdade o show não para, a batera segura no rufar como se fosse uma introdução e o Ronan detona - para então voltar com outra porrada chamada "Cruel jogo do não". Destaco também a linda canção "Se desfez" de 2020 entre muitos EPs e singles que a banda vive lançando, como é o caso de "O vazio" agora!, "Cântico do armagedom" e a campeã "Novamente ao bar" fechando o show que num fôlego só mais pareciam um furacão. Mas a Móbile é assim! Um furacão!
Um respiro para uma bebida, um bate papo rápido, enquanto Cheyenne Love ocupava o palco como a segunda atração da noite. Um trio formado pela genial Nayana Machado (guitarra & vocal); o fera Ricardo Richaid (baixo) e o monstro da batera, Marcelo Callado. Já deu pra sentir que vou me desmanchar em elogios, né? Pois, é! Um power trio Grunge da pesada, com repertório todo em inglês e 13 canções ferozes. Cheyenne Love, quase que inevitavelmente, por ser uma banda grunge, lembrava o saudoso Nirvana de Kurt Cobain, pelos arranjos sujos que de uma hora pra outra suavizava-se para em seguida atacar de novo. Com um inglês impecável e uma vocalista idem, a banda de postura também punk, nos entregava um show irretocável. Nayana Machado tem voz macia que ora também nos remete, por seus falsetes, à grande Allanis Morrisete, mas só por alguns segundos porque ela gosta mesmo é de soltar a voz na justa medida que o grunge exige, ou seja, parece gritaria mas é pura técnica.
Ela entra no palco com aquele seu jeitinho meigo de voz macia, para nos surpreender já nas primeiras intervenções vocais. É quase um êxtase quando ela esbugalha o olhar e escancara a boca para, feito uma loba, uivar os versos de suas canções e em seguida amansar a voz acompanhando a descida da música que nos entrega uma doce melodia em meio a toda aquela gritaria de vocal e instrumentos. A bateria sempre pulsante de Callado com o baixo infernal de Richaid fazendo cama para a guitarra de Nayana. Beirava a perfeição para aquilo que a banda se propunha a fazer. O púbico vem junto com a banda batendo cabeça e agitando a cabeleira naquele típico "dançar" grunge. Canções como "Brutally" que abriu o show; "No Friends" e "In your head", são provas incontestáveis da excelência do grupo. Destaque mais que merecidos para "Old friends" onde Marcello Callado mostra toda a sua sensibilidade como baterista numa performance de hipnotizar o público arrancando-lhe os devidos aplausos. Num solo aproximado de quase 10 minutos, fazendo ressoar a caixa, e depois o tilintar dos pratos com a marcação uniforme do bumbo, numa habilidade pouco vista por aí numa profusão de ritmos que a banda acompanhava de mansinho fazendo cama para Marcelo ficar à vontade com a sua destreza. Realmente inesquecível. Esplêndido! Callado mostrou que domina as múltiplas opções que o instrumento oferece. Foi um deleite deveras, uma improvisação que só quem estava lá para conferir! O show seguiu nessa pegada do início ao fim, num show realmente digno de admiração e aplausos.
E a Rockarioca mais uma vez nos provou porque é um dos eventos mais importantes da cidade. Pedro Serra tem o dom, um incansável descobridor de talentos, quando menos um genial produtor atento ao que há de melhor na cena.
Às quintas-feiras, uma vez por mês, sempre no La Esquina na Lapa. Fica a dica! E depois não digam que eu não avisei.
Revisão e Edição: Leozito Rocha
Textos e Fotos: Nem Queiroz
@Todos os direitos reservados