segunda-feira, 3 de abril de 2017

Pauta de Hoje: Raf. F. Guimarães Entrevistão e Mais...


Hoje o blog fará uma prestação de serviço jornalístico. Digo isso, pois entrevistei o músico carioca Rafael Guimarães, 38 anos, mentor da banda "Amigas de Plástico", produtor, compositor, outsider sem pose e talentosíssimo artista. Assinando como Raf F Guimarães o músico faz um som minimalista, instigante, etéreo e indie ao mesmo tempo. Desde a banda Amigas de Plástico, concebida no fim dos anos 90 (precisamente entre 97/98), como em seus trabalhos solos, Rafa é um especialista em estúdio. Tanto é que grava e trabalha por lá. Assina trilhas sonoras também em sua choupana. Disse-me em entrevista que aposta bastante em suas letras, apesar de muitas canções serem somente instrumentais. Mas, faz questão de deixar todas as letras disponíveis nos discos ou em seus canais na web. Afirma que os vocais não são mais do que instrumentos. Por isso não refuta-se em deixá-los em segundo plano. Enxerga a música, a obra como um todo. Isso é muito bom. Endosso suas palavras... O termo que coloquei no alto do "post" como "prestação de serviço" faz-se necessário, pois eu considero o espaço e voz de blogs, sites e afins lugares para divulgação de arte. E música é uma delas. Sobretudo quando temos arte nacional. E artistas talentosos ralando e sobrevivendo do ofício. Abaixo duas fotos desse quem vos escreve com o músico:


(Rafael e Léo Rocha)


(Rafael e Léo Rocha)


Oh... Babe I dreaming of Monday... Cantava Paul Weller em "Monday" (The Jam). Pois, nossa entrevista foi feita em plena segunda-feira no charmoso bairro de Botafogo. Entre sete, oito, vinte cervejas... Rsrsrsrs... Artistas de rua, meninas transeuntes, amendoins avulsos e um garçom argentino... Tudo condizente com a boa boemia. Raf deixa escapar que sufoca os vocais propositalmente nas canções e isso rendeu algumas discussões com seus parceiros de som. Ele gosta de provocar o ouvinte com efeitos, sons e até mesmo mantras ("13 mentiras" é uma delas) prolongados. E, que dão um clima muito bom e lírico. Cria uma atmosfera específica ao seu jeito. O músico disse-me que o faz em shows também. Hehehehe... Aditivado com outras coisitas mais... Ok...Ok... Pela Amigas de Plástico foram nove discos entre dois EPs. Além de participações em projetos alheios. Na carreira solo são três discos: "Lofi Em Mono", "Phase 3" e "Gitanes Et Toréros". Importante ressaltar que  todo esse material  está disponível para apreciação em seu site:



Nosso encontro rendeu horas de papo (foram cinco horas) e ótimas histórias. Com direito a presença de um engraxate (o sapato do músico precisava de um brilho) e um "cabra" chato embriagado que alternava de mesa em mesa pedindo cigarros. Ugh! Raf afirmou que o gótico e o industrial foram responsáveis por seu interesse musical. Alguns trabalhos a sonoridade "indie" (termo que Rafael não curte muito) sai de cena e dá lugar ao industrial, eletrônicos e "beats". Isso chamou-me atenção. No meio dos "causos" apareceu uma parceria com Will Sergeant (Echo & The Bunnymen) improvável. Rsrsrs... Mas, ela aconteceu mesmo. O que abriu mais papo, né? Somos fãs da banda inglesa. E, o mote dessa amizade foi os trabalhos de Raf. O que comprova a competência do músico. Além de habilidoso com os instrumentos, Raf mostrou-se generoso: deu-me dois presentes (cd do Freeheat e três palhetas feitas por ele) bacanas:



Obs: Freeheat é um dos projetos de Jim Reid (The Jesus & Mary Chain) com meio The Gun Club. Esse acima é o EP de estreia. Muito bom, por sinal... Procurem e ouçam...

ENTREVISTA

1) Rafa, como começou seu interesse pela música? Nos fale sobre sua formação e história.

RG: Eu era preterido pelo meu irmão que monopolizava a televisão. Não me deixava assistir nada. Daí eu ficava escutando rádio. Ouvia a Fluminense FM, Transamérica e Cidade. Na minha adolescência eu ouvia de tudo. Não era muito popular entre as meninas... Rsrsrs... O que mudaria depois quando comecei conhecer e conviver com o pessoal do rock. Tinha uma camiseta dos Ramones e isso ajudou... Rsrsrs... Lembro que minha mãe deu-me de presente o "Kiss Me Kiss Me" do The Cure e gastei a fita. Era K-7. Sobre formação eu fiz psicologia na PUC também. Levei isso pra minha vida.

2) Mas, como foi essa catalização? Quais bandas despertaram em ti o interesse real da coisa?

RG: Ao que eu me lembre foi o The Cure, não pelo som específico, pois eles mudavam muito. Por esse presente mesmo. E, alguns discos anteriores. O Echo & The Bunnymen que eu virei admirador. As guitarras de Will Sergeant conquistaram-me e o Neubauten. Enveredei-me pelo industrial, gótico e experimentalismo. 

3) Por que "Amigas de Plástico"? Certamente você já cansou de responder...

RG: De cara. Sempre. É na verdade uma ironia com aquelas patricinhas que enchem a cara de maquiagem. Um tributo! Rsrsrsrs.

4) Pensei que tinha algum cunho sexual...

RG: Já demos essa resposta também. Rsrsrs


 (Lofi Em Mono)

5) E a questão de mergulhar fundo nas produções, estúdios? O que te levou a ser mais do que um músico?

RG: Bom... Aí é uma longa história. Eu posso resumir que um amigo estragou minha guitarra brincando no volume. Detonou mesmo. Por ignorância. Então tive que mandar reparar, etc... Tudo saiu caro demais. Eu vivo de música. Desde esse dia passei a ser autodidata e aprender como funciona mesmo o instrumento. Toda parafernália elétrica e o escambau. Tudo. Da construção de uma guitarra até a sua produção. Passando por captadores, timbres, tons, pedais... Tudo. Eu monto tudo. Tem muita gente que me pede dicas de como eu fiz tal som numa música. Ou como eu distorci tal som...Etc... Crio, gravo e produzo tudo na minha casa.

6) Falando em produção e sons... Nos conte sobre Will Sergeant (guitarrista do Echo & The Bunnymen) e essa aproximação. Como deu-se isso?

RG: Isso foi muito estranho. Numa época que tinha umas vendas de garagem no E-Bay (site) eu participava. E, gostava de comprar certas coisas. Will sempre foi ativo no fórum. Muita gente não tocava-se disso. Acha que por tratar-se de um músico renomado outra pessoa iria responder por ele. Porra nenhuma. Ele adorava isso. Vivia online. E, eu ficava também. Certo dia, um dos meus pedidos não veio. Mandei um e-mail explicando. Ele leu e passou a monitorar essas coisas. Começamos a trocar algumas ideias. Sempre. Ele tem trabalhos solos eletrônicos. E o tempo passando e nós trocando figurinha...

7) Porra... Trocar figurinha com ele? Isso é do cacete!!!! Talvez ele nem deu-se conta do que estava rolando...

RG: Pois é... Eu estava admirado. Mandei coisas minhas também. E ele curtiu. Como ele e o Ian (McCulloch - vocalista) adoravam caipirinha (e cachaça) certa vez Will pediu um favor: queria que eu mandasse uma cachaça pra ele. Mandei. Daí nasceu uma parceria à distância, mas com intimidade para troca de material. Tanto que ele mandou meu primeiro trabalho pro exterior e bombou!!!! Me dei bem! Rsrsrsrs... Foi maravilhoso.



(Phase 3 - num envelope lacrado a cera)

8) Como foi essa transição da banda para a carreira solo?

RG: Foi difícil e ao mesmo tempo necessária. Insatisfações, mudanças de pensamentos e tudo mais. Já tinha material em casa meu. Uma banda sempre discute ou tem baixas, né? Porém, eu sentia uma vontade de gravar e produzir coisas que eu já tinha em casa. Segui produzindo e gravando. Até o instante que foi inevitável. Daí eu tirei um tempo para repensar (corria o ano de 2015) e ficar mais quieto. 

9) E aí? 

RG: Depois de algumas coisas mais pessoais decidi que era hora de voltar a gravar. Eu tinha lançado o Lofi e entrei na pilha de fazer o Phase 3. Tudo voltou naquele instante. Comecei a gravar e trabalhar mais e mais. Fiz dois, além de participações em projetos dos outros. Ora no Rio, ora em Sampa. 

10) Ter as letras em português é importante pra você?

RG: Muito. Faço questão de cantar no idioma. Considero um fracasso pessoal aqueles que usam letras em inglês sendo brasileiros. Deu certo com o Sepultura, mas foi só. Se eu cantasse em outro idioma estaria admitindo minha incapacidade de fazê-lo em português. 

11) Duas indicações de coisas que você acha legal. 

RG: Eu indicaria Wolvserpent. Duo americano de drone. Tem gente que chama de doom metal. Gosto bastante. E escolheria uma brasileira: Canto Cego. Uma banda daqui do Rio de Janeiro. Vocais femininos. 

12) Por último... Esse mês de abril você tem shows em São Paulo, certo?

RG: Isso. Estarei com meu show na Sensorial Discos no dia 13 de Abril e no Laje 795 dia 14 de abril. Vamos agitar São Paulo!!!!

Yeaaaah!!!


(Gitanes Et Toréros)


Além do site supra citado tem alguns vídeos do Raf F Guimarães no youtube também. Tanto da Amigas de Plástico como na carreira solo:






BIP.